terça-feira, 9 de maio de 2017

DOCES LEMBRANÇAS - A boneca aeromoça

Quando adolescentes, temos sempre aquelas amigas que nos matam de inveja. Acho que inveja é só força de expressão, porque não existe inveja boa. Inveja é inveja e não pode ser um bom sentimento. Melhor mudar para “amigas que nos matam de tanta admiração”. Melhorou. Soa muito mais positivo. Eu tenho inúmeras amigas as quais admiro. E muito. E vou usar o retorno das “Doces Lembranças” – ausente do Jornal do Castelo desde meados de 2015 – para, sempre que possível, ressaltar uma delas. Enquanto eu me divertia com bonequinhas de plástico e cabelo sintético ou com as de papel -que permitiam a compra das baratinhas cartelas de roupinhas -, essa minha amiga tinha, simplesmente, o nome da mais famosa boneca do momento e sonho de consumo de dez entre dez crianças da década de 1960: Susi. A boneca Susi era fabricada pela Estrela – a Barbie de hoje - e nasceu para brilhar, assim como a minha amiga que, com seu sorriso, ilumina a tudo e a todos por onde passa. Reparem que até a sonoridade do nome é linda, assim como ela, que sempre atraía olhares por onde passava. Assim como a boneca, Susi sempre teve o corpo esguio e pernas finas, mas muito bem delineadas. Os frequentadores da piscina do Círculo Militar que o digam. Não bastasse ser agraciada com beleza e um nome de boneca, Susi sempre foi arrojada. Quando eu ainda nem havia sonhado com a possibilidade de um dia viajar de avião, a danada já estava prestando concurso na extinta Vasp para ser aeromoça. Se hoje em dia ainda existe todo um glamour envolvendo as comissárias de bordo, imagine naqueles anos 1980. Ser aeromoça não representava exercer apenas uma profissão diferenciada. Era a possibilidade de viajar pelo Brasil inteiro, cruzando as fronteiras pelos ares, enquanto nós, no má­ximo, atravessávamos parte de São Paulo até o Rio de Janeiro, abarrotados em até seis passageiros em carros de amigos - para economizar na viagem. Assim, além de linda e com nome de boneca, Susi tornava-se também elegante e glamourosa com seus uniformes impecáveis. E tem mais. Eram poucos os que tinham a oportunidade de estudar inglês além das aulas do tipo “The book is on the table” da escola pública. Sempre à frente de seu tempo, ela comprou LPs e estudou em casa, sozinha, ouvindo músicas dos Beatles e dos Rolling Stones. Nunca deixou que o seu “sucesso” subisse à cabeça e continua, até hoje, a amiga leal, carinhosa e bacana com todos. A Susi sempre foi alto astral. Tem um talento especial para reunir pessoas à sua volta – principalmente em sua casa -, recebendo e atendendo todos os seus amigos com um supercarinho. Tem, ainda, uma capacidade enorme para apaziguar as situações e sempre procura valorizar o lado bom da vida e de seus amigos. Eu e todos os amigos e amigas a admiramos muito. Ela é ou não uma eterna boneca?

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