terça-feira, 18 de maio de 2010

Artigos publicados em 2010




Do Chapadão à Paris




Vera Longuini

Peça a Deus e ele lhe dará. Peça aos amigos, e eles lhe darão, também. Eu pedi, e estou sendo atendida. Agora tenho uma coleção de histórias gostosas para contar, graças ao reencontro com as minhas amigas de infância. Nossas reuniões têm sido cada vez mais prazerosas. No domingo, 17 de abril, estivemos juntas no aniversário da Neusinha Mafissioni , no salão social da Igreja Cristo Rei. Nossa mesa reuniu a Susi e a Denise Perallis, a Márcia Barcelos e a Márcia Franciosi, a Mara Araujo, a Glaucia Crepaldi, a Thany e a Elizete Marcolino e eu. A Vânia também estava lá. Uso todos os sobrenomes “de solteira” para facilitar a identificação das personagens, pois os casamentos, infelizmente, nos afastam dos amigosSó que, quando a vida quer, ela promove os reencontros. E cá estamos quase todas juntas outra vez. Quando nos reunimos temos tanta coisa para conversar que é difícil que uma deixe a outra falar. São tantas as histórias que saímos de um encontro já com outro agendado.Conforme prometido, hoje eu contarei sobre a viagem que a Susi Perallis e Silmara, sua cunhada, casada com o Celso, ganharam para a Europa em um torneio de tranca realizado na Daslu, luxuosíssima loja de São Paulo que reúne as principais marcas do mundo.A afinidade delas com as cartas de baralho parece estar na genética dos Perallis. Há mais de 10 anos a família pratica o carteado e até promove torneios internos. Dos avós aos netos, e incluindo os agregados, como genros, noras e cunhados, todos participam da saudável jogatina familiar nas quais são distribuídos medalhas e pequenos prêmios. As apostas, quando muito, chegam a R$ 10,00. Mas daí, a uma viagem à Paris e à Suíça, existe uma grande distância não apenas física, mas financeira. Em 2005, a mãe de Silmara, Miriam Rodrigues da Cunha, havia comprado, a pedido de seu amigo, o apresentador de TV Amaury Junior, um convite, no valor de R$ 300,00, para o 1º Torneio Jogue Bem, de tranca, em benefício do Lar do Caminho e do Instituto Pró Queimados, que aconteceria na Daslu. Sua idéia foi presentear a filha pelo aniversário, acreditando que ela não apenas se divertiria com as cartas como, ainda, teria a oportunidade de conhecer o templo de consumo paulistano. Silmara adorou o presente, mas precisava de um parceiro. E não era bem o tipo de evento ao qual o Celso, seu marido, toparia acompanhá-la. Ela, então, pensou logo na Susi (a cunhada topa-tudo) que, na época, morava em São Paulo, convidando-a para ser sua parceira no campeonato. Como o torneio seria na tarde de um domingo, combinaram que Silmara pegaria o ônibus da Capriolli direto para o aeroporto de Congonhas, onde a Susi e seu marido a esperariam para seguir até a Daslu. Por mais que tenham caprichado na escolha dos modelitos apropriados para a ocasião, Susi e Silmara só tiveram a exata noção de onde estavam se metendo quando, já no elevador, se depararam com ninguém menos do que Betty Szafir, mãe do ator Luciano Szafir, considerada uma das socialities mais elegantes da capital paulista.No Terraço da Daslu, onde o torneio seria realizado, a high society paulistana desfilava em peso entre celebridades e sobrenomes famosos, que saboreavam os acepipes & aperitivos do brunch oferecido no receptivo e nos intervalos de cada rodada. Começou o campeonato. A dupla de Campinas perdeu a primeira partida. Susi serviu-se de um vinho branco para relaxar, mas enfrentou os protestos de Silmara que temia as conseqüências da mistura álcool+ansiedade+nervosismo. Na segunda rodada, venceram - por 30 a zero - a dupla formada pelo renomado arquiteto João Armentano e esposa. E, assim, foram as demais partidas contras os famosos: 28 a dois, 27 a três, sempre de levada. Como o pior resultado poderia ser descartado, elas calcularam que, eliminando a derrota da primeira rodada, obteriam a classificação do quinto ao sétimo lugar entre as 10 duplas que seriam premiadas. Cada nome anunciado era seguido de um sobrenome conhecidíssimo e de um currículo que justificava a fama, provocando efusivos aplausos. Os prêmios incluíram aparelhos celulares, casacos de pele, roupas de griffe, jóias e quadros de pintores vanguardistas. Mas os prêmios foram terminando e nada da dupla campineira ser anunciada. - Aí tem truta, queixou-se Silmara, questionando a honestidade da organização do evento.Susi pediu, então, ao marido, que acabava de chegar para buscá-las, que fosse com a Silmara até os organizadores para conferir o resultado, pois era impossível que elas não tivessem ganho nada. Eles foram, mas, antes de aproximaram-se dos organizadores o mestre de cerimônia João Doria Junior anunciou:- E, em primeiro lugar, a dupla Susi e Silmara. Assim, ditos os nomes sem sobrenomes, currículos ou títulos. Os colunáveis ficaram de boca entreaberta (só não totalmente aberta porque gente chique não abre demais a boca em público) e sequer conseguiram aplaudir, tentando identificar quem seriam aquelas duas que, talvez por serem tão famosas, não exigiam uma apresentação mais detalhada.- O prêmio são duas viagens, na primeira classe, para a França e para a Suíça, com seis noites de hospedagem no Hotel Plaza Athénéé, de Paris, e spa Clinique La Prairie, em Montreaux, continuou João Dória, enquanto as duas se abraçavam e pulavam de alegria.E agora? Como viajar só as duas, sem os esposos? Assim, Silmara decidiu vender o seu voucher para que o marido da Susi a acompanhasse à Europa. Com o dinheiro, ela contribuiria para os estudos da filha, então na universidade. Para elas, a divertida e insólita experiência fará sempre parte de suas doces lembranças. E ironizam:- A única amizade que fizemos na Daslu foi com o garçom que nos servia. Só que formos nós que “garfamos” o primeiro prêmio.


Sobre destinos e raízes

Vera Longuini









Quando a família Franciosi recebeu os Nardini, vindos de Jacutinga, como vizinhos da casa na qual moravam na Avenida Andrade Neves, no Castelo, talvez não imaginasse que tão caloroso acolhimento os uniria para toda a vida. Para os bate-papos quase diários bastava ao Nelo Nardini abrir o portão da casa de numero 1.991, atravessar a rua e entrar na residência quase em frente, de número 1.948, de Alberto Franciosi. Nelo Junior, então com 22 anos, sempre acompanhava o pai nessas visitas com um velado propósito de paquerar a caçula dos Franciosi, Márcia, então com 18 anos de idade, irmã da Heliana e do Carlos Alberto, o Caberto. Para quem não está ligando o nome e sobrenome à pessoa, trata-se da Márcia Patinha, da nossa equipe de vôlei do Circulo Militar na década de 70.Enquanto Junior, engenheiro civil recém-formado, procurava emprego para mostrar ao mercado de trabalho os seus conhecimentos profissionais, Márcia acabava de ser aprovada na Faculdade de Agronomia de Pinhal. O namoro aconteceu, mas durou pouco: os objetivos dos jovens eram diferentes naquele momento e a distância também atrapalhou o romance. Nos finais de semana, quando voltava à Campinas para visitar os pais, Márcia só pensava em descansar e recuperar as energias. A distância entre eles aumentava a cada dia: os pais de Márcia, Otilia e Alberto, mudaram-se para Artur Nogueira e, ela, depois de formada, decidiu aceitar o convite para trabalhar em Bebedouro e, depois, em São Paulo. Por sete anos, ela sequer teve noticias dos Nardini.O que só a idade e o tempo nos ensinam, entretanto, é que do destino ninguém foge ou se esconde. E, Deus, que sempre usa o acaso para nos mostrar ser ele o único comandante de nossas vidas, preparou para Márcia e Junior um reencontro, digamos, casual.Heliana, a irmã da Márcia, decidiu organizar uma Festa da Primavera em sua casa. Márcia vivia em São Paulo e chegaria pouco antes do evento. Como a vida, sempre que deseja, encontra os caminhos para promover os reencontros, Heliana decidiu reunir-se com alguns amigos para um rápido chopinho no Giovanetti no final daquela tarde e lá, por acaso (?), encontrou-se com o Junior. Depois do “oi, como vai?, tudo bem?, por onde você tem andado?, veio fatalmente o convite para a festa daquela noite.-Sua irmã estará lá?, quis saber Junior.- Ela estará, sim, respondeu Heliana.No entanto, antes que Heliana pudesse avisar a irmã sobre o novo convidado daquela noite, Márcia encontrou-se com um antigo amigo do volei e, não querendo ficar deslocada na festa que reuniria apenas os colegas de Heliana, achou por bem ir acompanhada de alguém conhecido. O arrependimento bateu assim que viu o Junior na festa. Ela, simplesmente, não poderia deixar o amigo de lado e, muito menos, envolvê-lo num papo saudosista com o ex-namorado. Assim, Márcia e Junior passaram quase toda a noite fisicamente distantes, mas não o suficiente para impedir a discreta troca de olhares. Se é que o cruzamento de olhares possa passar despercebido. Não se sabe até hoje se o amigo percebeu ou não que estava sobrando. O fato é que, em determinado momento, ele despediu-se e retirou-se da festa, deixando o caminho livre para Junior.Desde então Márcia e Junior não se largaram mais. Junior já estava estabilizado profissionalmente e prontinho para iniciar uma vida a dois.


Eles namoraram por três anos, casaram-se em setembro de 1991 e tiveram dois filhos: Paula, hoje com 12 anos de idade, e Pedro, com 6. Márcia não apenas retornou para Campinas, como voltou a viver no bairro onde nasceu (na rua Irmã Maria Inês), e viveu a sua infância (Rua Francisco Otaviano, atrás da Igreja do Rosário) e adolescência (Avenida Andrade Neves). Hoje mora em um condomínio próximo à Pedreira do Chapadão.É a roda viva do destino nos mostrando que as nossas ligações com pessoas e lugares são muito mais fortes do que tenta imaginar a nossa vã filosofia. Por isso devemos valorizar mais os reencontros e as lembranças que eles nos trazem, pois o nosso passado é um grande professor do qual sempre estaremos tirando importantes lições que nos servirão e nos guiarão pelo resto de nossas vidas. A casa dos Franciosi na Andrade Neves, que freqüentei muito na época em jogávamos vôlei no Circulo Militar, transformou-se no Friend´s Pub (na esquina com a rua Professor Jorge Henning). Nos anos 1990 voltei ali várias vezes para ouvir boa música e bebericar com os amigos da TV Brasil (SBT), onde eu trabalhava e que ficava a três quadras dali. Aliás, várias casas da minha infância e juventude transformaram-se em bar. Inclusive a que eu nasci, no Cambuí, o que já me deu idéia para um novo artigo.A Márcia esteve uma tarde toda de sábado em minha casa e lembrou-se de histórias engraçadas, como as tentativas de furto dos cavalos de seo Paulino, organizadas pelo seu irmão Caberto e pelo Domingos Giuntini. Mas isso eu só conto se eles me autorizarem. No dia 08 de abril almocei com parte do Clube da Luluzinha (Márcia Barcelos, Mara - esposa do Nando Barcelos - Zete e Susi) para comemorar o aniversário das duas primeiras. E já prometi que a próxima história será sobre o dia em que a Susi e a Silmara, esposa do Celso Peralles, arrasaram na famosíssima Daslú. Novidade: em breve as Doces Lembranças estarão em um blog para maior interatividade com os leitores do Jornal do Castelo, do Jornal de Campinas e com os amigos.


A construção da Igreja Cristo Rei


Vera Longuini

O melhor de contar histórias é poder eternizá-las e não deixar que se percam no esquecimento ou fiquem limitas e presas às lembranças e à memória de quem as vivenciou. É por isso que adoro transpor para o papel os bate-papos com os amigos quando dos encontros – muitas vezes casuais –, ou por meio das mensagens eletrônicas, como a da Ivonete, irmã da Vera, da Sonia, da Norma e do Washington que leu, pela internet, as lembranças sobre os lugares que freqüentávamos no bairro e que não existem mais e decidiu dar um “alozinho”. Muito legal essa gentileza, NE?A história de hoje é sobre a construção da Igreja Cristo Rei, uma simples capela que só foi elevada de categoria graças ao empenho, esforço e dedicação de um pequeno grupo de moradores do Jardim Chapadão.Os fatos eu “arranquei” da memória do José Antônio Dias, marido da Luzia e pai do José Ricardo, amigos que já mencionei várias vezes nessa coluna. Em janeiro, quando tive a oportunidade de levar meus pais para visitá-los na Rua Comunidade Lusíadas, na mesma casa que já abrigou toda a minha família durante uma reforma em nossa residência, tive a alegria de ouvir o Zé Dias, como o chamamos, contar detalhes das campanhas realizadas e do envolvimento dos nossos vizinhos na construção da igreja. Zé e Luzia são padrinhos de batismo da minha sobrinha mais velha, a Camila, filha da Regina (Helena).Ex-tesoureiro do antigo DAE – Departamento de Águas e Esgoto de Campinas –, hoje Sanasa, Zé Dias foi o braço direito – e creio que o esquerdo, também -, do padre Lino, pároco do bairro no final dos anos 1960, época na qual foi decidida a construção da Igreja Cristo Rei para atender os moradores católicos do Jardim Chapadão.A primeira missa realizada para abençoar a empreitada, alías, foi rezada na garagem da casa da família Dias. Pela sua experiência profissional, Zé Dias prontificou-se a ser o tesoureiro da nova igreja: conseguia doadores para a compra do material de construção, datilografava os recibos e realizava as cobranças. Para comandar a empreitada, foi formada uma comissão composta por 11 membros, entre eles Valter Corsi, Luiz e Nilda Gonzaga, Lívia Gabriele, dona Olga, dona Ana, dona Leonor, dona Neusa, dona Zilda e a sua esposa Luzia.Enquanto as mulheres preparavam quitutes, como quibes, esfihas e empadas, para serem vendidos nas quermesses e chás beneficentes para a arrecadação de verba para as obras do Cristo Rei, os homens encarregavam-se de conseguir bons brindes para os sorteios, incluindo aparelhos de televisão e carros da Volkswagen, como Fusca e Kombi. Zé Dias guarda a foto de Acácio Pinto ganhando a rifa de um Volkswagen 1970, doado pela Concessionária Domira, instalada em Sousas, e cuja receita contribuiu para a compra de muitos tijolos, areia e cimento. José Dias lembra que a igreja demorou cinco anos para ser construída. Hoje, o comando está com o Padre Magalhães, que foi meu professor na PUC. Minha irmã, a Neusinha, e o Edson Baptista fizeram a primeira comunhão na Cristo Rei, quando ela era ainda uma capela. Temos a foto em casa, assim como a da minha catequese na Igreja do Rosário, ao lado da Celinha, da Tatá (Maria Aparecida Alexandre Alves, que o Clovinho trocou a foto na edição passada referente ao carnaval de rua) e da Márcia Franciosi, amiga do vôlei do Circulo Militar e que eu esbarrei no Shopping Iguatemi dias atrás. Na maior cara de pau, a Márcia “Patona” e eu nos sentamos em um sofá da loja na qual nos encontramos e batemos o maior papo, relembrando dos amigos e da nossa adolescência. Aliás, é a interessante história do casamento do Márcia que contarei no próximo mês, com a ajuda da protagonista. No início de fevereiro também me encontrei com a Márcia Barcelos e com o Formiga no restaurante Daitan. Já retornei do carnaval (um pouco longo, no meu caso, conforme protestaram os amigos), e aguardo o contato dela, da Zete, da Tani, da Susy, da Denise, da Araty e da Neusinha para aquele prometido encontro em minha casa, que está e estará sempre de portas abertas, assim como o meu coração, para receber essas pessoas tão queridas que foram - e continuam sendo - tão importantes na minha vida. Recadinho: não é preciso esperar que o acaso provoque o nosso encontro. Basta me mandar um e-mail para que eu responda rapidinho.


Na alegria da folia

Vera Longuini

Quando vocês lerem este artigo, provavelmente serei uma no meio dos quase dois milhões de pessoas que estarão seguindo algum trio elétrico no carnaval de Salvador, na Bahia. Como atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, todos os anos aproveito esse momento momesco para verificar se continuo realmente viva. E me surpreendo ao perceber que tenho um estoque de energia que parece inesgotável. Sei que não é fácil acompanhar o meu pique. Mas para quem quiser se aventurar comigo, o meu segredo é estar sempre me reabastecendo com muitas doses de alegria, pensamentos positivos e escolha de boas companhias. Esse ano, o meu irmão Carlinhos, foi uma delas.Acho que eu já nasci ligada nos 220 volts. Sou tão elétrica que, às vezes, até dou choque. Adoro dançar, amo cantar e me sinto muito à vontade com os mais diversos ritmos de música. Na minha casa o som está sempre ligado e vira e mexe me vejo dançando, mesmo que sozinha, na sala, no quarto. Cair no samba, então, é comigo mesmo. Principalmente nas festas de rua, nas quais se misturam pessoas de diferentes nacionalidades, nível de instrução, objetivos de vida e classes sociais. É um momento único de respeito às diferenças, à diversidade.O carnaval é uma destas festas que me deixam feliz. Desde pequena eu curtia já as matinês nos Clubes do Bonfim e Andorinha e, depois, do Circulo Militar. Para Salvador eu viajo desde o início dos anos 1990, na época das mortalhas, vestimenta utilizada nos blocos soteropolitanos, antecessoras dos atuais abadás.Mas é sobre os anos 1980 que quero contar neste artigo por envolver meus amigos do Jardim Chapadão em divertidos desfiles na avenida Francisco Glicério. Para quem não acreditar, temos até fotos para provar: o Celso e a Susi Perales, que moravam na rua Jacob Bereck Stemberg, a Tata (Maria Aparecida Alexandre Alves), que vivia na rua Sampaio Vidal, e eu nos aventuramos como passistas das escolas de samba Rosa de Prata e Unidos do Salgueiro, destaques, naqueles tempos, do carnaval campineiro.Acontecia que, como jornalistas, éramos obrigados a trabalhar em plena festa de Momo na cobertura do carnaval de rua e dos bailes promovidos pelos principais clubes sociais da cidade. Decidimos, então, transformar a obrigação em diversão e, assim, criamos um animado grupo que aproveitava o descanso dos microfones, câmaras de TV, máquinas fotográficas e papeladas de anotações para curtir o pobre e sempre mal organizado carnaval popular da cidade. Participamos desde o primeiro desfile dos blocos Tomá na Banda, criado no Bar Ilustrada, e da City Banda, idealizada no City Bar pelos bons boêmios e músicos da cidade.Os presidentes e diretores das escolas de samba precisavam colocar um número mínimo de alas e passistas para receber a autorização para o desfile e, consequentemente, verba da Prefeitura. Como não havia – e até hoje não há – interesse da maioria da população em participar do carnaval de rua campineiro, resolvemos ajudar. Formamos a ala da Imprensa e convidamos os amigos para integrá-la e garantir o número de foliões para que pelos menos duas escolas – uma do primeiro e outra do segundo grupo – descessem a avenida.Em um dos anos, na Rosa de Prata, o enredo contava a história da cidade na época do café. Nossa ala representava os senhores dos engenhos: as mulheres transformaram-se em sinhazinhas, dentro de um quente e rodado vestido cor-de-rosa com mangas bufantes e babados no peito, tendo como acessório uma sombrinha de renda branca. A minha quebrou-se ainda na concentração, sob a ponte da via expresa Aquidabã, e, para mantê-la aberta fui obrigada a passar todo o desfile segurando a trava para que as varetas permanecessem abertas e a escola não perdesse pontos. Os homens trajavam calça branca, camisa rosa e casaca e cartola prateados. Remexendo em minha grande coleção de fotos, encontrei o Celso Perales, parado no meio da avenida, enquanto todos dançavam à sua volta.Em outro ano, formamos a ala dos espanhóis. Com vestidos negros e vermelhos e flores nos cabelos, encontrei a Susi Perales e a Tata divertindo-se com a gente. Em outra oportunidade, nos fantasiamos de pierrôs e colombinas. Das bandas também encontrei diversas fotos nos meus antigos álbuns, doadas por fotógrafos que cobriam os eventos, já que naquela época não existiam câmaras digitais ou celulares (parece um absurdo, né?). Até que éramos criativos: no primeiro ano do Tomá na Banda, nosso bloco foi formado por Rê Bordosas e Juvenais (o garçom do bar que a personagem do Angeli frequentava em seus quadrinhos); de outra vez encontrei fotos minhas com shorts com suspensórios, boné com a aba virada para traz da cabeça e estilingue nas mãos.Deu saudades. E, por isso, este ano decidi formar um novo bloco para acompanhar a City Banda. Transformamos a Hammer Academia no bloco Hammer Folia e conseguimos, em apenas três dias, reunir 50 integrantes. Como ninguém contava com a pontualidade do desfile no sábado, dia 6 de fevereiro, alguns dos nossos foliões só chegaram quando o desfile já havia terminado. O Clovinho, a Lara (novo pseudônimo da Lazinha) e o Bruno Cordeiro vestiram o nosso abadá. Para o próximo ano, conforme já combinado com o Gustavo Lopes, dono da academia, vamos, no mínimo, triplicar o número de participantes. Os amigos do Chapadão, se desejarem, já estão convidados para integrar o nosso condão.


O castigo veio a cavalo

Vera Longuini

Da ultima vez eu mencionei que contaria as histórias dos cavalos do seo Paulino, marido da dona Elvira e pai do Adão (Nenê) e da Eva. Apesar da preocupação manifestada por alguns e dos protestos de outros, esclareço que eu apenas conto as histórias “autorizadas” pelos envolvidos e descarto os comentários feitos nos bate-papos regados à cerveja, até mesmo por não dar-lhes tanta credibilidade. Além disso, como boa amiga, eu jamais comprometeria a imagem de ninguém, ainda mais de pessoas que foram tão importantes na minha infância e adolescência e das quais eu guardo as melhores recordações. A história de hoje foi intitulada como “O castigo veio a cavalo” pelo nosso amigo, ator e clown Richard Riguetti (o Nê), que acaba de ganhar outros dois prêmios no Rio de Janeiro pelo seu trabalho, e também lembrada, confirmada e detalhada pelo Marcão Castelli, no aniversario de 15 anos da sua sobrinha Bianca, filha do Dada e da Lu Dressano No final da década de 60 ou inicio dos anos 1970, o seo Paulinho vendia leite em litro pelas ruas do bairro naquelas charretes de madeira puxada por cavalos. Como a família do seo Paulino morava na rua Alberto Jackson Byington e o bairro sofria com um processo de aceleração imobiliária, cabia ao Adão a tarefa de levar os cavalos (Pingo, Mosquito, Guarani) e as éguas (Potranca e a Égua) para serem alimentadas em um pasto próximo da Vila Militar. Essa tarefa o Adão dividia com a molecada, que transformava em uma grande diversão o revezamento dos cavalos que iriam para a lida ou ficariam no pasto. Eles aproveitavam para passear e cavalgar pelas ruas do bairro, embora muitas vezes a velocidade que imprimiam às montarias acabava transformando a brincadeira em um inconseqüente páreo.Certa vez, creio que por imaginarem um hipódromo na rua Cônego Manuel Garcia que ainda não era pavimentada no trecho abaixo da avenida João Erbolato, eles foram surpreendidos por um ciclista que trafegava na mão contrária. Estavam o Adão, o Nê e o Marcão em dois cavalos (um deles, na garupa). O primeiro cavalo, “pilotado” pelo Marcão, acertou o ciclista em cheio e o atirou ao chão. Os cavalos tropeçaram e também caíram, derrubando os três cavaleiros.- Pensamos que havíamos matado o cara. Ele ficou deitado no chão, de barriga para cima e só percebemos que estava vivo porque o seu pomo-de-adão era muito saliente e movia-se ao compasso da sua respiração. O Marcão, mais corajoso, levantou-se, ergueu o ciclista e virou-se para pegar a bicicleta dele. Queríamos chamar a ambulância, mas o cara não quis. Oferecemos para trazer-lhe água, mas ele também a recusou. Tentou seguir com a bicicleta, só que não conseguiu porque a roda estava toda torta. O cara colocou a bicicleta nos ombros e seguiu caminhando, carregando-a nas costas, conta Nê.Um deles, no entanto, reconheceu a bicicleta como sendo de um colega do bairro (não sou a única a esquecer nomes) que morava na avenida João Erbolatoe foram até lá:- Sua bicicleta está aí?, perguntaram.-Está sim, no quintal.-Você pode verificar?Não estava. O rapaz que eles atropelaram a havia furtado momentos antes e estava em plena fuga quando foi “castigado” pelo encontro com os cavalos. Soube-se, depois, que o rapaz vivia em uma favela que existia no Taquaral e havia trabalhado para o pai do colega que teve a bicicleta furtada. Embora ele já tivesse vendido a bicicleta quando localizado, o dínamo e o farol da “magrela” ainda estavam com ele. Mudando de assunto, no final de 2009 aproveitamos para matar a saudade de alguns amigos que não víamos há tempos. Entre eles, visitamos o casal José Dias e Luzia, que mora na rua Comunidade Lusíada. Eles, inclusive, conforme já contei aqui, até mesmo hospedaram toda a minha família na edícula da residência deles enquanto a nossa casa passava por uma ampla reforma no início dos anos 1970. Pena que o José Ricardo, filho do casal e que eu tive a oportunidade de reencontrar na quermesse da Igreja Cristo Rei não estava lá. Mas foi justamente por mencionar esse encontro que o José Dias me contou toda a história da campanha da construção da igreja, que vou contar no artigo de março, já que o de fevereiro fatalmente será focado no carnaval.E, por falar na Igreja Cristo Rei, agradeço o carinho e o churrasco da Turma do Futebol no final do ano. Adorei rever tantos amigos, como o Celso (irmão da Sueli, da Susy, Lilão e Denise), o Nelson (antigo – no bom sentido – colega de escola) e o Paulinho, que morava ao lado da sede social do Bonfim, na Julio Ribeiro e que, conforme me contou, até hoje continua baladeiro, atuando como DJ. Aliás, já combinamos organizar uma super festa. Quem sabe já a agendamos para logo após os festejos de Momo, né?