terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O sapatinho da mamãe



Eu já contei parte dessa história aqui. Vou apenas estendê-la. No Dia das Mães de 1986, a jornalista Rosa Guedes lamentou-se com dona Lena sobre a sua vontade de ter um filho. Minha mãe foi até o armário e de lá tirou um sapatinho de lã que ela própria havia tricotado, embrulhou-o para presente e o entregou à Rosa.
- No ano que vem você traga esse sapatinho “cheio”, ordenou dona Lena.
No dia 23 de janeiro passado o “recheio” do sapatinho da minha mãe completou 24 anos, está com mais de 1,70 de altura e tornou-se uma moça linda, inteligente, estudiosa e trabalhadora, orgulho dos seus pais e, é claro, da tia Lu (que sou eu, se é que alguém não ainda não sabe).
A história dos Guedes Tavares, que moraram na Rua Lucio Pereira Peixoto e, agora, vivem na Rua José de França Camargo, no Jardim Chapadão, na nossa vida é muito interessante.
O José Carlos Tavares foi meu colega de faculdade. A Rosa Guedes formou-se um ano depois, mas estreitamos a amizade em 1982 quando trabalhamos juntas na Radio Central. Foi amizade a primeira vista. Se bem que a palavra “vista” nesse contexto pode até parecer força de expressão. É que a Rosa, na adolescência, não enxergava muito bem devido ao astigmatismo e hipermetropia. Assim, quando íamos ao cinema, eu me sentava ao lado dela para ler, em voz alta e sob o protesto da platéia, as legendas dos filmes na tela.
Valeu a penas, pois acredito piamente que esse sacrifício tenha sido considerado quando o casal Tavares me convidou para madrinha do casamento. Desde então, a nossa amizade só aumento com o passar dos anos.
Como a família da Rosa é de Echaporã e a do Tavares de Rinópolis, a dona Lena os adotou como filhos em Campinas, incluindo-os sempre nos domingueiros almoços familiares. Com o nascimento da Renata e, um ano depois da Ana Leda, as meninas também foram incorporadas à árvore genealógica dos Badolato Longuini. A quem perguntasse sobre quantos netos tinha, dona Lena respondia de pronto:
- Doze.
-São 10, alguém sempre a corrigia.
-Não, são doze. Você não contou a Renata e a Ana Leda, dizia.
Quando a Renatinha nasceu eu era muito baladeira. Saia todas as noites e chegava em casa com o Sol quase nascendo, ou, as vezes, já no alto do céu. Com uma filhotinha tão pequena, a Rosa e o Tavares passavam o sabadão trancados em casa e queriam a companhia dos amigos aos domingos. Assim, todos os finais de semana a Rosa me ligava logo pela manhã, com o mesmo apelo:
-Longuini, é a Rosa. Eu te acordei?
-Não, respondia. Eu tive que levantar para atender ao telefone que estava tocando, resmungava.
-Vem almoçar aqui, pedia.
Eu aceitava o convite, mas ia cambaleando de sono. Mal terminava de almoçar, eu pegava a Renatinha no colo e dizia que ia para o quarto fazê-la dormir. Bastava alguém abrir a porta para me flagrar no maior sono e a Renata brincando, sozinha, sentadinha na cama.
Certa vez, a rosa e o Tavares viajaram para Buenos Aires e as deixaram comigo. Eu as levava para a escola, fazia comida para elas e, ainda, as “obriguei” a participar de um concurso de redação do Mac Donalds. Mas sei que a Re-re, como a chamo, me perdoa, assim como a Ana Leda, que é tão baladeira quanto a tia e a quem eu também homenageio por aniversariar no dia 28 de fevereiro. A Renata é Relações Públicas e trabalha na Thema. A Leda formou-se em Comércio Exterior e foi contratada pela Motorola. Sempre que podem, elas me visitam. Saímos para tomar cerveja e comentar sobre trabalho e amores. Além de minhas eternas sobrinhas, elas se tornaram minhas grandes amigas. Tanto quanto os seus queridos pais.