sexta-feira, 10 de abril de 2015

Doces lembranças...Só trapalhadas

Vera Longuini veralonguini@ateliedanoticia.com.br Estou sempre envolvida em trapalhadas, mesmo quando não sou eu quem as provoca. No meu aniversário de 15 anos ganhei um pôster no qual estava estampada a seguinte frase: “bons pensamentos são, sempre, bons companheiros”. Creio que, desde então, vivo feliz e em paz com tudo e com todos, pois afasto qualquer pensamento que me leve a julgar, pré-julgar ou a acreditar na maldade humana. Conto hoje uma história envolvendo amigos muito queridos, dos quais vou trocar os nomes, pois não conversei com eles para pedir autorização para publicar a história, que é verídica. A apenas os nomes são fictícios. Ela tem duas partes. Tenho dois amigos que se chamam Pedro. Um deles é casado com a Diana e, o outro, com o João. Para diferenciá-los vou chamá-los de Pedro I e Pedro II, como os nossos imperadores. O Pedro I e o João estavam juntos há anos e atuavam nos meios culturais. O Pedro II e a Diana moravam no mesmo prédio que eu. Detalhe: O Pedro I e o Pedro II não se conheciam. Parte I: certo dia, convidei o Pedro I para ir à minha casa e ele me pediu que fizesse uma fondue. Topei na hora. No entanto, pedi que chegasse cedo, até às 20h, pois eu teria um compromisso logo pela manhã no dia seguinte e, assim, poderíamos aproveitar bem o tempo para matar a saudade. Ainda no período da tarde daquele mesmo dia, a Diana me ligou apenas para dizer um oi. Decidi convidá-la para estar na minha casa, também. - Olha, o Pedro me pediu para fazer uma fondue para ele hoje. Marquei às 20h. Vá também. Pensando que eu estava falando do marido dela, indagou: - O Pedro te ligou e pediu para você fazer uma fondue para ele? -Sim -Que horas ele te ligou? -Agora há pouco. Acabei de falar com ele, respondi, sem perceber que não estávamos falando do mesmo Pedro. -Se ele vai, é claro que eu vou, respondeu, ainda acreditando que o marido dela era que tinha feito o pedido para mim. Diana tentou falar com Pedro II a tarde toda, sem sucesso, o que já a deixou mais irritada. “Como é que ele liga para a vizinha, pede para que ela faça uma fondue para ele e nem me avisa? Isso não vai ficar assim!”, contou Diana, depois, sobre os seus malévolos pensamentos naquele momento. As 20h, chegam pontualmente o Pedro I e o João. Já com a mesa posta, interfonei para a Diana e avisei. - O Pedro já está aqui. Você não vem? - Já está ai?, estranhou. E, mais uma vez os maus pensamentos incitaram a sua raiva: “Nunca chegou em casa tão cedo. Além disso, foi direto para o apartamento da vizinha e nem passou aqui? Deixe-o comigo”. E foi para a minha casa, pisando duro. Ao chegar, no entanto, deu de cara com o Pedro I e, imediatamente, percebeu toda a confusão. Às gargalhadas, me chamou na cozinha e contou sobre a confusão. -Então, quer dizer que o Pedro II não sabe que vamos comer fondue?, perguntei. -Você não o avisou?, questionou-me? -Claro que não. Eu não falei com o seu marido, respondi -Então ele não sabe, pois eu também não falei com ele, disse Diana, ainda rindo. - Ligue para ele agora e o convide para vir para cá, ordenei. Parte II: Diana telefona para o Pedro II e diz: -Pedro, a Verinha está fazendo uma fondue e disse para você vir para cá´. -Quem está ai?, Indagou Pedro II. - Dois amigos dela e nós duas. Como eu havia acabado de me separar, o Pedro II – que eu adoro, diga-se de passagem - foi logo tirando suas ridículas e machistas conclusões: “A Vera mal se separou do marido e já convida amigos para a sua casa e, ainda por cima, chama a minha mulher”. Ele não gostou nada da história e voou para a minha casa. Ao chegar, sentou-se à mesa conosco e, laconicamente, conversava com minhas visitas. Pedro I percebeu o ciúme estampado no rosto do Pedro II e, educadamente, conduziu sutilmente o assunto para que ficasse evidente de que ele e João formavam um casal e, portanto, nenhum deles tinha qualquer interesse – a não ser o de uma grande amizade -, com a Diana e comigo. Essa história é divertida, mas se não tivesse sido esclarecida poderia ter me afastado de pessoas muito queridas. Por isso o diálogo, sempre que duvidarmos de alguém ou de alguma situação que pareça estranha, é imprescindível para os esclarecimentos que possam restabelecer a ordem das coisas. Eu prefiro sempre acreditar na amizade e na bondade do ser humano. E a vida me mostra, todos os dias. Que eu estou no caminho certo.

Doces Lembranças...Mas é carnaval!!!!!

Vera Longuini - veralonguini@ateliedanoticia.com.br Em fevereiro tem carnaval. Acho que tenho uma vocação particular por esta festa. Sempre gostei da folia, desde a infância. A alegria dos salões, as fantasias dos foliões e as músicas bem humoradas parecem deixara vida mais feliz. Lembro-me de quando era bem pequena, na casa da minha avô materna, na Vila Maria, em São Paulo, brincávamos o carnaval na rua e a grande diversão era jogar bexigas d´água, uns nos outros. Corríamos pela Praça Santo Eduardo, na avenida Guilherme Cotching, ou nos escondíamos na sacada do quarto do andar superior do sobrado para atirá-las sobre quem passasse pela calçada. Como os sobrados eram todos iguais, construídos em fileiras ao longo de toda a quadra, ficava difícil identificar de onde vinham as bombas de água. Mas sempre tinha alguém apertando a campainha da casada vovó para reclamar de meus primos e de mim. Nos salões dos clubes nossas fantasias eram apenas shorts, camisetas e, no máximo, um colarzinho florido. Os patrocinadores distribuíam leques de papelão. Alguns fazem isso até hoje. No Clube do Bonfim o salão da Rua Julio Ribeiro era dividido em dois, apenas por cadeiras, para separar os foliões por idade. E seguíamos dançando em circulo, como num footing numa praça, mas só que mais animado e agitado. Na adolescência, no Circulo Militar, os bailes carnavalescos aconteciam, primeiro, no Golden Roon e, depois, no Ginásio de Esportes. Superbandas, tocando ao vivo. Era uma delicia dar a volta no salão, recebendo e lançando olhares, paquerando, brincando, dançando, extravasando. Depois, viram os carnavais de rua. Reuníamos os amigos para desfilar nas Escolas de Samba Rosas de Prata e na Unidos do Salgueiro que se apresentavam na avenida Francisco Glicério. Participamos da City Banda e do Tomá na Banda, ambas criadas nos bares noturnos do Cambui, desde o início. No final, o ponto de encontro era o Ginásio do Clube Regatas, onde toda a turma da Imprensa encerrava a noite depois do trabalho de cobertura dos desfiles e salões. Nos anos 1990 o carnaval de Salvador me conquistou. E por 10 anos consecutivos voava para lá com mortalhas e abadas para ir atrás dos Trios Elétricos. Ali fiz amigos de todas as partes e, com muitos deles, mantenho forte amizade até hoje. Hoje perdeu o glamour do popular e está comercial e lotado demais. Ainda gosto da bagunça toda, de seguir as bandas pelas ruas e da alegria que o carnaval traz. Gosto também das marcinhas com suas letras críticas e satíricas que debocham dos problemas políticos e sociais. Aliás, Petrobras e falta d´água são favoritas como temas carnavalescos postados na internet. Nada de novo. A atual Sereia da Cantareira tem tanto apelo quanto o “Tomara que chova três dias sem parar”. São tantos os problemas do mundo que, por quatro dias, talvez valha a pena ironizá-los para que fiquem um pouquinho mais leves. Afinal, é carnaval e, amanhã, tudo volta ao normal!