segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Chega de Saudade

Saudade é uma daquelas palavras fortes, capazes de provocar as mais diferentes emoções. Só conhecida em galego e português, essa palavra tenta descrever uma miscelânia de sentimentos que incluem o amor, a perda, a falta, a distância de alguém ou de algum lugar. Talvez por ser tão complexa é que não exista em outras línguas. Originária do latim (solitas, solitatis = solidão), com o tempo foi transformando-se ao sabor das variações da pronúncia: solitatem, solidade, soldade e, finalmente, saudade. Dizem que a palavra surgiu na época do Brasil colônia para definir a solidão dos portugueses que para cá vieram, muito longe de seus parentes e amigos. No Brasil ganhou até data especial, o Dia da Saudade, comemorado em 30 de janeiro. Exatamente no dia em que me dediquei a escrever essa crônica. De tantas lindas definições que li sobre saudade, a de Pablo Neruda é a que, para mim, melhor resume esse vulcão de sentimentos. Em um trecho de seu poema sobre Saudade, ele diz que: “é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já...” Entendam como “amado” toda pessoa querida e digna de despertar em nós essa confusa mescla de sentimentos, como os dois amigos do bairro que faleceram em janeiro: José Dias e Cleyton Silva. O Zé Dias tem uma história curiosa que poucos sabem. O verdadeiro sobrenome de sua família era Said, e não Dias, como consta da sua certidão de nascimento. Seu pai, por desavenças com a família, decidiu inverter o sobrenome. O José Dias foi um funcionário público exemplar, marido dedicado da Luzia, pai do José Ricardo e excelente vizinho. Ele foi também um dos maiores colaboradores da Igreja Cristo Rei, inclusive participando ativamente da arrecadação de recursos financeiros para a sua construção, conforme já contei aqui. Foi ele quem cedeu a edícula no fundo da sua casa, na Rua Comunidade Luziada, para abrigar a nossa familia (pai, mãe e cinco filhos, imaginem!), nos dois ou três meses necessários para a reforma da nossa casa. Quem fazia isso naquele tempo? Quem faz isso hoje em dia? Quem ainda tem amigos assim? De você, José Dias, e de sua família, temos apenas boas lembranças. Quando crianças - tínhamos 6 ou 7 anos de idade -, o José Ricardo e eu só brigávamos. Na adolescência viramos amigos e muitas vezes voltámos a pé, do Circulo Militar, batendo longos papos. O Cleyton Silva era irmão do Ildeo (Guinho) e cunhado da minha irmã Regina. Ele era filho do seo Geraldo e da dona Aurora e irmão do Evandro, do Haroldo, do Moises, da Cleusa, da Ana Lucia (Luia), do Tita e do Guinho, que moravam na Rua Ana Gomes. O Cleyton, que eu me lembre, nunca morou em Campinas, já que, quando deixou Uberlândia, foi viver em São Paulo para trabalhar como radialista e, depois, como humorista. Mas passava todas as férias no Jardim Chapadão, mesmo depois que se casou com a Isis. Nós convivemos muito com seus filhos, Cleytinho, Andrea e Erica. Cleyton Silva ficou nacionalmente conhecido pelos bordões de seus personagens na TV, entre eles, “Tô di oio nu sinhô!”, “Vâmo fazê nossa postinha?”, “Pregunto!”, “Bobinho esse minino” e “Eita, fuminho bão, sô!”, no programa A praça é nossa. Ele estava no elenco da atração desde sua estreia, em 1987. Nos anos 1970 participou de alguns quadros de Os Trapalhões. Também atuou no cinema nacional, como nos filmes Pecado horizontal, Na violência do sexo e O bem dotado - O homem de Itu. José Dias e Cleyton: que Deus possa ter reservado um lugar bem bacana para vocês nessa nova etapa da vida espiritual. O que mais posso dizer? Já temos saudades. Vera Longuini veralonguini@ateliedanoticia.com.br

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