quarta-feira, 14 de março de 2012

Amélia não era a mulher de verdade!

Aproveitando o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, gostaria de homenagear algumas das mulheres que, apesar de viver no “Castelo”, não tiveram vidas de princesa, mas transformaram-se em verdadeiras soberanas graças às duras experiências impostas pela vida.
Que me perdoem Mário Lago e Ataulfo Alves, mas discordo que a “Amélia é que era mulher de verdade”. Das tantas mulheres que eu conheço e que merecem ser assim chamadas, destacarei a minha mãe, a Maria Helena (Lena) Badolato, e as mães e parentes de amigos meus, como a dona Ordália Cordeiro, a dona Ilse Baptista, a Luiza Dias, a Conceição Costa, a dona Regina Marcolino, a dona Dóris Perallis, Celina Barcellos de Moraes, Alaide Castelli e tantas outras, às quais antecipadamente peço desculpas por não citar aqui.
À elas devemos, principalmente, a criação dos filhos maravilhosos que deixaram como seus vivos exemplos na Terra para dar continuidade à uma linhagem que precisa ser mantida. Todos nós, seus filhos, temos que deixar a modéstia de lado e admitirmos que somos pessoas do “bem”, que promovemos a honestidade, a ami­zade e a dignidade. Graças a essas mulheres maravi­lhosas que Deus teve o carinho de colocar em nossas vidas.
Com “ninhadas” de filhos, elas não tinham máquinas de lavar roupas ou pratos, não tinham faxineiras, empregadas, nem cozinheiras, não tinham automóvel (aliás, a maioria sequer sabia dirigir), não contavam com delivery e com nenhuma das tantas facilidades da vida moderna. Minha mãe, por e­xemplo, precisava ensaboar, ferver, quarar, lavar novamente, enxa­guar e colocar para secar ao sol as nossas roupas encardidas da terra do Chapadão ainda sem asfalto em suas ruas nas quais brincávamos. E foi tão benemérita auxiliando tanto o Movimento Assistencial Espírita Maria Rosa, a antiga Sopa do Grameiro, onde prestou serviços voluntários por mais de 40 anos, e enquanto a sua saúde permitiu.
A dona Ordália, que nada en­xergava, além de tudo, ainda ajudava no sustento da casa, costurando chapéus para a fábrica dos Cury. A Conceição Costa, que além de mãe foi uma super tia para todos nós, realizou paralelamente à sua vida doméstica um grande trabalho de assistência aos jovens viciados em drogas que pudemos acompanhar tão de perto.­
Mulheres que, se a dificuldade apa­receu, não passaram fome ao lado dos maridos e, em vez de acharem graça de “não ter o que comer” ou de enfrentar qualquer outra dificuldade, arregaçaram as mangas e foram à luta, priorizando a prole e ajudando – ou so­zinhas – a sustentar seus lares. Não viveram só de amor e, apesar de, certamente, também sonha­­rem e suspirarem para a lua, ves­ti­ram a armadura para enfrentar a tudo e a todos que um dia chegaram a ameaçar os seus castelos. São soldadas, são guerreiras, são exemplos. Das Amélias que conheço, só mesmo a que leva o Maria antes do nome e o Sanches como sobrenome, enfermeira de primeira linha e que curou tantas feridas, próprias e alhe­ias, com toda a dignidade que o mundo lhe deu.
É para essas mulheres a minha homenagem: que cuidam de seus filhos, pois sabem a responsabilidade que assumiram perante a vida ao dar a luz e, ainda, conseguiram tempo, coragem e disposição para cuidar de tantos outros. Embora algumas já não estejam fisicamente aqui, sei que ainda continuam olhan­do, orando e torcendo por nós. Obri­gada pelos exemplos que nos deram. Obrigada por terem feito parte e por ainda estar em nossas vidas.