sábado, 29 de outubro de 2011

Sobrinha de peixe, peixinha é

Desde criança eu sempre gostei de escrever. Em casa, apesar do pouco estudo dos meus pais, falar corretamente o português sempre foi uma exigência. Até hoje, uma concordância verbal errada ou a pronúncia de uma palavra inexistente ou trocada é motivo de correção, perto de quem quer que seja. Para quem não está acostumado, pode parecer grosseria, as desde pequenos fomos acostumados a corrigir uns aos outros. E não importa quem esteja por perto. No mínimo, quem ouvir aprende também.
Mas essa “insuportável” maia que temos de corrigir uns aos outros em casa pelo menos nos fez falar e escrever corretamente. Talvez, por isso, seguimos fazendo o mesmo com as novas gerações. E não é que está dando certo. No dia do meu aniversário, em setembro, fui surpreendida pela minha sobrinha-neta, Nicole, que tem apenas 15 anos. Há 9 anos, desde que comecei a trabalhar para a Expoflora, ela e os irmãos Isadora e Rafael (está com 5 anos, mas vai lá desde que nasceu) ficam um ou dois dias no evento comigo. Minha mãe também adorava visitar o evento das flores e, em especial, a Chuva de Pétalas. Em vez de contar, prefiro publicar o texto que a Nicole escreveu, intitulado “Porque optei fingir que acredito”. Ela escreveu:
“Há alguns anos, eu e minha família somos fiéis ao passeio na cidade das flores. É uma vez ao ano em que deixamos de lado os desentendimentos, decepções e tristezas que existem em qualquer família estranhamente normal. Um dia para dar o devido valor aos pontos altos de se ter uma família.
Esses dias são afogados por risadas, piadas sem graça e muita comida. Dia para matar as saudades de quem quase não se vê, dia de amar e ser amado. Dia de sorrir e, em troca, receber sorrisos.
A chuva de pétalas sempre foi a melhor parte. Todo mundo junto, grudadinho para presenciar a chuva mais delicada que existe. Finalzinho da tarde e todos estendem e elevam as mãos para sentir o toque das pétalas. Esse momento sempre foi bonito, já que dizem que quem segurar uma pétala ainda no ar tem um sonho realizado. E todos os anos eram iguais: milhões de sonhos, mãos para o alto, pessoas e pétalas
No ano que passou, minha família perdeu um pedaço. A nossa querida abelha rainha – conhecida também por ser irmã, tia, mãe, avó e bisavó -, resolveu que era a hora de partir para o andar de cima e nos deixou sem... sem mãe, avó e bisavó, que é o meu caso. A saudade tomou conta das casas e das pessoas e, por um bom tempo, ninguém conseguiu ouvir a palavra capelete sem deixar que uma lágrima escorresse de seus olhos.
Eu era aquela pessoa que tentava segurar pétalas por diversão, mas nunca acreditei na história da realização de sonhos. Porém, esse ano, a vontade de segurar uma pétala foi maior. Era como se alguma coisa estivesse me puxando para lá. Fiquei bem na frente e levantei as mãos. Estava disposta a segurar uma pétala.
A chuva com cheiro de flor começou e lá fui eu tentar segurar e sentir o cheiro da rosa. Depois de inúmeras tentativas frustradas deixei a mão direita aberta e não a movi. Um minuto, aproximadamente, se passou e, finalmente, uma pétala pousou sobre a palma da minha mão. Resolvi não conter o choro e o deixei percorrer o meu rosto. Choro de saudade e alegria caminhando de mãos dadas. Saí de lá com a pétala na mão e sentei-me em um canteiro de flores em frente à Sala da Imprensa. Fiquei quieta e comecei a curtir a saudade da minha bisa que voltou para me visitar.
Para a minha surpresa, a música “Como é grande o meu amor por você”, do Roberto Carlos, começou a tocar. Uma música que a dona Maria Helena – minha bisa – adorava e vivia a cantarolar. Optei fingir que acredito na história das pétalas, por sempre ouvir a minha “véia” falando que gostaria de segurar várias pétalas para pedir amor, alegria, saúde, dinheiro e paz para os parentes e amigos.
De agora em diante, tentarei pegar o máximo de pétalas que eu conseguir, para poder continuar a pedir todas as boas coisas que ela pedia. Assim, poderei lembrá-la com mais amor e saudade do que eu me lembro hoje”.
Não é uma fofa? Acho que logo,logo, essa menina puxa o meu tapete.

Vera Longuini
veralonguini@ateliedanoticia.com.br

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