sábado, 6 de junho de 2015

A “arte” de sobreviver

Eu não sou uma pessoa consumista, mas adoro feiras. De todos os tipos. Todas as cidades que visito, no Brasil ou no Exterior, eu procuro saber onde estão os mercados e as feirinhas para eu visitar. As de artesanato são as minhas preferidas. Admiro a capacidade dos artistas de usar os seus talentos para criar ou transformar peças, sejam elas de decoração ou utilitárias. Minha casa é uma verdadeira galeria para a exposição da arte desses profissionais. Creio que sei os motivos pelos quais eu gosto tanto de feiras. Foi expondo seus tricôs e crochês em uma delas que minha mãe ajudou a pagar a minha faculdade e a me sustentar durante anos. Separada do meu pai e sem profissão, já que havia dedicado sua vida, até então, para cuidar do marido e dos cinco filhos, a dona Helena, ou Leninha, como era conhecida, foi obrigada pela difícil situação financeira a colocar em prática tudo o que havia aprendido com sua mãe e avós para terminar de criar meu irmão e eu, ainda solteiros, quando o marido decidiu seguir a sua vida longe da família. Colocou literalmente a mão na massa para produzir massas caseiras (capeletti, tortelli e macarrão) e formar uma boa clientela, que até hoje lambe os beiços de saudades das suas deliciosas comidinhas. Super ágil com as agulhas e linhas, dava aulas de tricô e crochê e produzia roupinhas de bebê, blusas de lã, cachecol, meias, toalhas e caminhos de mesa para vender.
Quando a Prefeitura de Campinas criou a Feira Hippie no Largo do Rosário, ela foi uma das primeiras a montar ali a sua barraquinha ao lado de cabeludos que vendiam pulseiras e artigos de couro. Depois, a Feira de Artesanato, seu nome real, passou para o Jardim Carlos Gomes e, por fim, para o Centro de Convivência Cultural onde permanece até hoje. Fez ali muitas amizades e inúmeros clientes. Além da sua própria barraca, trabalhava também em outra, da Ong MAE Maria Rosa, oferecendo parte de seus produtos e revertendo um percentual da renda para a entidade assistencial da qual era voluntária. Foi assim até aposentar-se, embora tenha continuado a vender em casa suas massas e seus trabalhos em lã. Doces lembranças que revivi dias desses ao visitar a feira de artesanato do Guanabara, entre as ruas Oliveira Cardoso e Alferes João José. Afinal, eu morei nessa rua quando tinha dois aninhos apenas e por um período muito curto, até que meu pai comprasse um lote no Jardim Chapadão e construísse ali a nossa antiga casa. Na visita à Feira de Artesanato encontrei velhos amigos do Castelo, comprei algumas coisinhas, almocei nas barraquinhas e conversei com os artesãos. Amei as caixas decoradas da Edna Onaga (comprei várias), as canecas do Carlos Rafael, as bonecas de pano da Maria do Carmo as cerâmicas da Alice e da Evelyn Sassaki e os trabalhos em MDF da Audrey. Muitos ainda fazem desse lindo trabalho o seu ganha-pão. Tem, também, quem não está lá por questões financeiras. Alguns fazem da produção e venda uma terapia. Recomendo aos amigos percorrer as barraquinhas e saborear as comidinhas e prestigiar esses talentosos artesãos. -- Vera Longuini veralonguini@ateliedanoticia.com.br