quinta-feira, 3 de junho de 2010

Doces Lembranças ...Arraial dos bons

Sou do tempo em que festa junina chama-se quermesse; bingo era tômbola e torpedo, correio elegante. Os vestidos de chita eram confeccionados pelas nossas próprias mães. Dava gosto de ver a dona Lena em sua máquina de costura, aplicando rendas no colo e na gola para tornar a roupa mais charmosa. O que tirava o fashion do modelito, com certeza, eram aquelas horrorosas calças balonè.

Em junho, nossa diversão era soltar balão “galinha”, feito apenas com uma folha de jornal amarrada nas quatro pontas, e resgatar os multicoloridos, de papel de seda, que caiam pelo bairro. Uma aventura para ter em mãos um balão chamuscado. Mas eu gostava mesmo das quermesses: das Igrejas Cristo Rei e do Rosário e dos clubes do Bonfim e do Circulo Militar.

Quem me socorreu nessas doces lembranças foi a Maria Inês Bachiega, que reencontrei no jantar na casa da Marcia Barcelos. Foi dela a idéia de recordar das festas juninas realizadas no terreno de terra batida ao lado da antiga capela Cristo Rei. Seu avô Hermes Bachiega administrava o salão de bocha e um barzinho que existiam onde hoje é o salão social. Seo Hermes até ensaiou a turma da quadrilha. Sua mãe, Thereza Azzoni, ficava no caixa geral e auxiliava na organização dos eventos da igreja.

Era nesse grande terreiro onde se montavam as barracas de madeira, cujas tábuas formavam um balcão para a exposição dos quitutes que exalavam o saboroso cheiro do milho verde cozido, do cural, da pamonha e da broa de fubá e o perfume do gengibre fervendo no quentão.

As tábuas das barracas também serviam de apoio para as anotações nas cartelas de tômbola. A gente se pendurava sobre elas para incentivar o porquinho da índia a entrar nas casinhas numeradas, ou para espichar o braço no jogo de argola e da pescaria. Que alegria ganhar aqueles simples brindes.

A grande fogueira ajudava a iluminar as noites frias e enluaradas, aquecidas pelo som que saia do autofalante conectado à vitrola apoiada na mesinha disposta ao lado da porta lateral da capela, fácil acesso para quem quisesse dedicar músicas e mandar recados.

Inês participou por oito anos da comunidade de jovens, ajudando nas campanhas para a construção da igreja. Ela e a sua gêmea Lúcia são famosas no bairro, pois tocaram violão entre 1976 e 1984 na sempre lotada missa dos jovens, nas noites de domingo, juntamente com a Salma e a Maristela Basseto.

Os fiéis as acompanhavam nos hits católicos, como Eu preciso de Você e Irmão Sol, Irmã Lua, cujas letras eram impressas no livreto Louvemos ao Senhor. Hoje a Inês é professora de Educação Infantil na Emei Bolinha de Mel e ensina violão para professores da rede municipal. Ah, ela também usa o seu dom artístico para confeccionar fantoches, expondo a marca O bicho é de pano na feira de Artesanato do Centro de Convivência.

Aproveite e deixe seu recado ou conte, também as suas doces lembranças.