terça-feira, 7 de agosto de 2012

Doces lembranças - Campanha pelo balão

O Clovis Cordeiro contou outro dia que os moradores do bairro iniciarão uma campanha para resgatar a praça conhecida como “balão do castelo”. A proposta dos moradores, de acordo com ele, é que o formato volte a ser circular, aumentando, assim, uma faixa de rolamento para os veículos hoje espremidos nos engarrafamentos frequentes em praticamente todas as horas do dia. A alteração da forma geométrica da praça, na época, foi necessária para evitar os “rachas” que ali aconteciam. Na minha adolescência, a gíria utilizada era “curvar no Castelo”, em referencia à caixa d´água, ou “curvar na Torre”, considerando que emuma das esquinas, onde está instalada hoje uma loja de sanduíches, funcionava a Torre de Pizza, uma lanchonete e pizzaria muito famosa na época. Mudar a forma geométrica da praça para evitar acidentes pode até ser uma medida aceitável. Mas derrubar todas as arvores que lá haviam foi um crime. Até hoje não me conformo com a “amputação” feita na praça que, convenhamos, ficou horrível. Na minha infância, lembro-me dos bancos sob as enormes árvores nos quais nos sentávamos para tomar sorvete ou para esperar um taxi que tinha ponto bem ali no balão. Recordo-me também do bar do pai do Ricardo, dono do Papai Salim, que ficava dentro do Castelo. No balcão, ao lado da escada, o baleiro de vidro redondo repleto de balas Juquinha e de gominhas era de dar água na boca. Subir até o topo era uma aventura que começava na escada estreita e escura. Cochichávamos para não chamar a atenção dos imaginários guardiões do Castelo, pois estávamos em uma importante missão: resgatar os prisioneiros de um maldoso rei, isolados no alto da torre. O ambiente começava a clarear quando estávamos próximos ao topo da escada. Como num passe de mágica, nos deparávamos com um lindo céu estrelado, pintado no teto abobadado. Do nada, mudávamos a brincadeira e com a cabeça para traz, olhos arregalados e boca aberta, tentávamos contar as estrelinhas douradas e identificar onde estavam as “Três Marias”, o “Cruzeiro do Sul” e o “rabo do escorpião”. Depois, na pontinha dos pés, nos apoiávamos perigosamente no beiral para vislumbrar Campinas, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Era sempre a mesma brincadeira e sempre era divertido. Na adolescência, conforme já contei várias vezes aqui, ficávamos sentados nas muretas laterais da Torre de Pizza esperando o “racha”. A exibição não era apenas dos Fuscas, Mavericks, Kombis e Opalas em alta velocidade, cantando pneus e colocando e risco todos os que estavam por ali. Tinham os exibicionistas. Alguns colocavam o bumbum pelado na janela do passageiro enquanto o motorista, bem devagar, circulava pelo balão e buzinava para chamar a atenção da moçada que entupia as calçadas em volta. Outros, mais afoitos, tiravam toda a roupa e realizavam a “volta olímpica” em torno do Castelo. Esses adolescentes não tinham computadores, internet, facebook e, talvez, consideramos hoje muito compreensível a maneira que eles tinham para tentar aparecer, não é mesmo? Espero que a campanha surta um bom efeito e que o balão do Castelo volte a ser “redondo” e que, como já existe tecnologia para o replantio de árvores adultas, que o verde volte a circundar e a enfeitar a praça. Vera Longuini veralonguini@ateliedanoticia.com.br

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